terça-feira, 15 de janeiro de 2013

ISSO FOI SUFICIENTE PARA EU FAZER POESIA

Quando eu chego no sertão
Vejo mainha chorando
Meu pai já vem me abraçando
Com aquela expressão
Eu sinto o cheiro do chão
Que me traz muita alegria
Vejo os amigos que um dia
Joguei bola no chão quente
ISSO FOI SUFICIENTE 
PARA EU FAZER POESIA

Puxo o verso da caxola
Vejo tudo grande e belo
Onde perdi meu chinelo
Em um pé de castanhola
O coelho da cartola
Sai de noite ao fim do dia
Nos bares vejo harmonia
Logo bebo um aguardente
ISSO FOI SUFICIENTE
PARA EU FAZER POESIA

Meus amigos me esperando
Para sair para a festa
Que lá no sertão só presta
Se for um forró tocando
Vejo um vaqueiro aboiando
Em forma de cantoria
Meninas na academia
Numa malhação latente
ISSO FOI SUFICIENTE
PARA EU FAZER POESIA

Vejo um cachorro engajado
No rabo de uma cachorra
Bêbados tocando a zorra
Chega um soldado do lado
Um jumento amarrado
Rinchando sua agonia
Pedindo sua alforria
Rincha e bufa novamente
ISSO FOI SUFICIENTE
PARA EU FAZER POESIA

A noite o céu estrelado
Esbanja graça e beleza
Vejo as mãos da natureza
No mato acinzentado
Basta um sereno arroxado
Que acontece a magia
O verde no outro dia
Tinge o sertão novamente
ISSO FOI SUFICIENTE
PARA EU FAZER POESIA

A formiga trabalhando
Cortando as folhas de leve
Um moleque que se atreve
Vai todas elas matando
Vejo um velho reclamando
Da dor que a idade inicia
Um povo com nostalgia
Que esbanja um olhar sorridente
ISSO FOI SUFICIENTE
PARA EU FAZER POESIA

Eu sinto tanta saudade
Desse cenário natal
Morando na capital
É outra realidade
Vejo ambição, falsidade,
E um povo sem alegria
Mas irei voltar um dia
E ao sertão direi contente
Tu foste suficiente
PARA EU FAZER POESIA

Glosa Renato Santos
Mote de Tamires da Cachoeira

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